Uma prática milenar, a pecuária é um ofício que costuma ser repassado dos pais para os filhos. O dilema é que muitas vezes a tradição vem acompanhada de conhecimentos e procedimentos agrícolas, que hoje não colaboram com o meio ambiente. Por isso, com o intuito de plantar uma mudança de mentalidade nos pecuaristas do Portal da Amazônia, mostrando exemplos de produtores que conseguiram pôr em prática a pecuária sustentável, foi realizado o evento Na Rota da Pecuária, em propriedades dos municípios de Nova Monte Verde, Nova Bandeirantes e Alta Floresta, de 27 a 29 de abril.
O evento itinerante, que visitou um círculo de fazendas modelos, contou com a participação de consultores, pecuaristas, pesquisadores e estudantes. Apoiado pelo Programa REM MT, a caravana buscou fomentar e incentivar a pecuária sustentável, contribuindo com a manutenção da floresta em pé.
O projeto é implementado pelo Instituto Centro de Vida (ICV), em parceria com Instituto Federal de Mato Grosso (IFMT), do Grupo de Estudos da Pecuária Integrada da Universidade Federal de Mato Grosso (GEPI/UFMT), Universidade Federal de Goiás, Sicredi, Embrapa Agrossilvipastoril e Campos S/A.
HISTÓRIA DE TRANSFORMAÇÃO
Uma das produtoras rurais que participou do evento foi Nilce Meneguetti. Ela chegou em Guarantã do Norte aos 19 anos, em 1984, e por influência da família do marido começou com a criação de gado. Nilce reconhece que, na época, a prática da pecuária como era feita seria considerada “primitiva” agora. Mas, garante que com mais investimento e estudos, é possível aliar o agro com a sustentabilidade ambiental.
“A pecuária no Brasil continua sendo feita como se fazia há 100 anos. Mas, desde que entramos no projeto, apoiado pelo Programa REM MT, é outra realidade. É anos-luz daquela administração tradicional. Tudo que a gente aprendeu sabemos que não podemos viver sem. Foi plantada a semente”, comenta.
Há dois anos a fazenda dela, a Monte Sinai, participa do projeto Conect@agro, também apoiado pelo Programa REM MT. Ao todo, 15 produtores, com propriedades de 600 hectares na região do Portal da Amazônia - Terra Nova do Norte, Guarantã do Norte, Matupá e Nova Santa Helena -, são atendidos pelo projeto.
Ela relata que com o apoio foi possível evoluir cada vez mais, assim como colaborar com o meio ambiente. É um trabalho desenvolvido que vai além da parte ambiental e produtiva, contempla também a gestão administrativa e financeira.
“É uma administração voltada para o sucesso, você sabe o que você vai fazer, sabe o que vai colher, e é tudo planejado. Quem não se planeja, não consegue ter muito sucesso. Então, esse é o diferencial, de quem tem uma assessoria de qualidade”, diz.
De acordo com Renato Farias, que coordena o Conect@gro no ICV, o projeto se insere em uma tradição da entidade em desenvolver e fomentar as práticas sustentáveis no campo. “É nisso que a gente tem apostado ano a ano e os resultados estão aparecendo e estão se consolidando na região. Esse é um legado que o ICV vai deixar para o futuro: essa mudança necessária no campo”.
Rota da pecuária e disseminação das boas práticas
A rota tem o intuito de, por meio do compartilhamento de histórias de pecuária sustentável como a de Nilce, incentivar os pecuaristas de Nova Monte Verde, Nova Bandeirantes e Alta Floresta a fazerem o mesmo.
O analista da Embrapa, Orlando Lúcio de Oliveira Júnior, aponta que é comum ver a tecnologia e inovação não chegarem até o produtor, mantendo o conhecimento restrito ao ambiente acadêmico. Por isso, é primordial que projetos como esse contemplem mais ainda essas regiões.
“Esse resultado de hoje, por exemplo, é um resultado de produtores que estão vindo visitar o que foi construído no passado. A gente vê que a academia tem uma formação excelente na parte teórica, mas a prática ficava a desejar”.
A coordenadora do subprograma de Produção, Inovação e Mercado Sustentáveis (PIMS), Daniela Mello, destaca que as chamadas Unidades de Referência Tecnológica (URTs) – como é o caso da fazenda de Nilce – encorajam os produtores por meio da difusão de tecnologias inovadoras.
“Temos o propósito de compartilhar o conhecimento gerado nessas URTs e em outras fazendas localizadas no Portal da Amazônia, aproximando os produtores rurais das inovações que florescem na região. Nossa missão é promover a pecuária sustentável, um verdadeiro elo entre o desenvolvimento da atividade da pecuária e a preservação do meio ambiente, o respeito ao bem-estar animal, a responsabilidade social e a viabilidade econômica”.
Acrescenta ainda que no Programa REM MT os projetos dedicados à pecuária de corte são fortemente direcionados para estimular o aumento da produtividade sem a necessidade de expansão em novas áreas. “Assim, buscamos alcançar o objetivo central do Programa REM MT, que é manter as florestas em pé”.
Fonte: Olhar Cidade